Um Relato Do Presente E Um Compromisso Com O Futuro

Texto produzido especialmente para a Cápsula do Tempo do Instituto Alarme / São José do Rio Preto – SP

Prefeito Edinho Araújo

 

Quando, aí no futuro, alguém deitar os olhos sobre este documento saiba que escrevo no 29º dia do mês de setembro de 2021, uma quarta-feira de calor, com alguns pingos de chuva e baixa umidade do ar. Estamos em meio a um dos períodos mais secos de nossa história.

A região Metropolitana do Noroeste de São Paulo, que tem São José do Rio Preto como Capital, sofre com racionamento de água, represas secas, rios baixos, inúmeros focos de incêndios que cobrem as cidades com fumaça e fuligem. A água está sumindo dos grandes lagos (reservatórios) das usinas hidrelétricas da região. Não há a curto prazo previsão de uma boa chuva e o racionamento de energia, com risco de apagões, é uma ameaça real.

Nos salvam da poluição e da secura as máscaras que usamos rotineiramente, como proteção contra a Covid-19, a pandemia que deixou marcas profundas nas vidas de todos nós, mudou nossa rotina, nos separou de pessoas queridas, levou ao desemprego e fechamento de empresas, e, infelizmente, fez milhares de vítimas.

Quem escapou ao vírus agradece a Deus pela chance de continuar vivendo.

Nada se viu de parecido nos últimos 100 anos. As primeiras notícias sobre a propagação do coronavírus, a partir da China, surgiram em janeiro de 2020. Parecia um problema distante, a afetar o outro lado do mundo. Mas num tempo de globalização e intenso intercâmbio entre países, a chegada do vírus entre nós foi questão de dias.

Em março tive que tomar uma decisão até então inimaginável: fechar completamente uma cidade de 460 mil habitantes, impedir a circulação de pessoas nos ônibus, motos e automóveis, vetar o funcionamento do comércio e dos serviços, ressalvando somente a venda de produtos essenciais. São José do Rio Preto entrava em seu primeiro lockdown.

Desde aquela data, editamos 62 decretos impondo restrições às atividades econômicas, culturais, educacionais, de lazer e outras, como forma de evitar o contato entre as pessoas e a consequente disseminação do vírus. Foi um vai e vem de regras e mudanças de horários, de fiscalizações para manter o isolamento social e de muita informação em tempo real para o cidadão se proteger. O tormento duraria muito, muito mais do que qualquer pessoa ou autoridade de saúde poderia supor.

No final de 2020, os números da pandemia começaram a ceder, dando a falsa impressão de que estávamos vencendo a batalha. Mas a partir de janeiro de 2021 veio de novo o pesadelo. O número de casos de Covid-19 disparou. Abrimos mais de 250 leitos extras de UTI e enfermaria para socorrer a população. Voltamos a restringir as atividades e a adotar um rígido lockdown, sob protestos de pessoas negacionistas e daqueles que, em desespero, exigiam retomar os negócios. Felizmente, ninguém ficou sem o devido socorro. Quando a ocupação se aproximava de 100% abríamos novos leitos.

De minha parte, nunca havia sofrido tanto em 49 anos completos de vida pública, 12 mandatos consecutivos, e agora prefeito reeleito de Rio Preto para o quarto mandato. Os protestos contra as medidas restritivas recrudesceram. Minha residência foi sitiada por quase uma semana, alvo de rojões, gritos, som alto e buzinas. As redes sociais se tornaram palco de xingamentos e ameaças de morte. Leigos comentavam e criticavam como se fossem especialistas num vírus novo, de comportamento incerto, contra o qual não havia remédios de eficácia comprovada.

Eu pedia a Deus a todo o momento para me dar forças e mostrar-me o caminho.

Fiz a opção por seguir a ciência. Pautei-me pela orientação de um comitê de saúde formado por notáveis rio-pretenses. E nunca me arrependi. Quem hoje se informar sobre esse período difícil de nossas vidas saberá que o negacionismo de Estado insuflou a desobediência civil por parte de grupos de fanáticos e pessoas que negavam a gravidade da Covid-19, ou até mesmo a existência da doença.

Nesta data em que escrevo, São José do Rio Preto contabiliza 97.178 casos positivos da Covid-19, para um universo de 470 mil habitantes. Destes, 94.864 pacientes já se recuperaram graças ao trabalho incansável (sem folgas, sem férias, estendendo jornadas de trabalho) dos funcionários municipais de saúde. Infelizmente, perdemos 2.789 vidas até o momento.

A média diária de casos, que já foi superior a quinhentos, se encontra abaixo de quarenta. Esta queda tem relação com o aumento da vacinação dos rio-pretenses. Até esta data foram aplicadas 675.073 doses das vacinas Coronavac, Pfizer e Janssen, somando primeira e segunda doses e as doses únicas. Poderíamos ter imunizado completamente toda a população, se dependesse apenas de nossa rede física e dos profissionais de Saúde. Mas o cronograma de distribuição de doses é controlado pelo Ministério da Saúde, que repassa os imunizantes para o Estado distribuir aos municípios. A burocracia e a falta de vacinas atrasam a corrida da vida contra o coronavírus.

Tudo indica que haverá uma luz no fim do túnel. Mas o surgimento de novas variantes do vírus e uma sensação de relaxamento da população – ansiosa por sair de casa, ir a bares e festas, encontrar parentes e amigos, e cansada das medidas de segurança como uso de álcool em gel e máscaras – deixam uma preocupante interrogação quanto ao futuro da pandemia.

Fiz questão de deixar o relato desta experiência pessoal para as novas gerações. Um dos momentos mais dramáticos desse período ocorreu no auditório do 9º andar da Prefeitura Municipal, quando recebi um grupo de profissionais da área de beleza e de academias para explicar a proibição do funcionamento dessas atividades.

Em meio a um grupo de 30 pessoas, um rapaz, dono de uma barbearia, se aproximou, ajoelhou-se, e com voz embargada suplicou:

– Prefeito, pelo amor de Deus, me deixe trabalhar! Eu preciso pagar as contas e por comida em casa.

Confesso que desabei. Senti-me impotente. Eu não tinha como mudar a triste realidade daqueles profissionais.

Por muitos dias aquela imagem ficou na minha retina, e ela jamais sairá da minha memória.

Quis o destino que eu vivesse para administrar São José do Rio Preto num dos momentos mais críticos de nossa história. Passei um ano e meio, aproximadamente, trabalhando todos os dias. Nesse tempo, cumprimentava as pessoas com a saudação oriental, flexionando o tronco, ou com toques “pé com pé”. Com a necessidade de ir à Prefeitura despachar e discutir as medidas de enfrentamento à Covid-19, mesmo respeitando regras de distanciamento, evitei expor maus familiares a risco. Em casa, apenas eu e a esposa Maria Elza. Deixei de ver filhos, netos e minha Gabriela, em seus ___ anos de vida.

Digo que conhecer a história é uma forma de manter viva a memória da nossa sociedade.

Torço para que em 2051 a humanidade tenha superado as adversidades climáticas e econômicas, que as guerras tenham cessado, a ciência tenha avançado o suficiente para a cura de doenças que hoje são mortais, e que o combate à fome e à miséria esteja no centro das preocupações dos líderes mundiais.

 

A HORA DA METRÓPOLE

 

São José do Rio Preto não para. Mesmo com a pandemia, seu ritmo de crescimento foi intenso nos últimos anos, o que a torna uma cidade cada vez mais moderna, e com necessidade de novos investimentos para não perder o protagonismo entre os municípios mais desenvolvidos do País.

Iniciamos um trabalho forte pela retomada da economia, na busca da recuperação do emprego e da renda perdidos em um ano e meio de pandemia.

Nesta data, firmamos um compromisso com o futuro. Projeto aprovado pela Câmara Municipal autoriza o município a tomar até R$ 300 milhões de financiamento em bancos oficiais, a juros baixos, para financiar um pacote de mais de 40 obras, incluindo mobilidade urbana, duplicações de vias e pontes, drenagem em pontos de alagamento, recuperação e modernização de espaços públicos e áreas de lazer e prática esportiva.

O valor é compatível com as finanças públicas municipais e representa apenas um quinto de nossa capacidade de pagamento. Os financiamentos feitos de forma responsável servem para isso: antecipar para já os investimentos que garantirão um futuro melhor para todos.

Minha equipe de governo sempre age com responsabilidade e colocando o interesse público acima de tudo. O pacote de obras e serviços com mais de quarenta itens é um compromisso que estamos assumindo com o bem-estar das futuras gerações. Podem conferir aí no futuro.

Neste ano de 2021 estamos concluindo uma obra revolucionária de mobilidade, o Anel Viário J. Hawilla, com 35 quilômetros de extensão, interligando toda a cidade às grandes rodovias que cortam nossa região: BR-153, Washington Luís e Assis Chateaubriand.

Estamos tornando realidade o contorno ferroviário, feito pela empresa privada Rumo, que desviará do Centro de Rio Preto as composições de carga que transportam 10% da soja exportada pelo Brasil, via Porto de Santos. Vamos deixar os atuais trilhos onde estão, pensando num projeto de transporte coletivo metropolitana sobre trilhos.

Rio Preto está toda conectada por redes de fibra ótica, levando sinal de wi-fi gratuito à população. Esta é a modernidade de hoje. Passados 30 anos as tecnologias devem ter evoluído exponencialmente.

Neste momento somos reconhecidos como centro especializado de medicina pública e privada, polo educacional com ensino público superior (Famerp, Unesp e Instituto Federal de São Paulo) e técnico (Fatec e Etec). Nosso parque tecnológico, a casa da inovação e da criatividade, saiu definitivamente do papel e abriga empresas de tecnologia de ponta.

A educação, o lazer, a cultura, o esporte, a assistência aos mais necessitados, a zeladoria da cidade, enfim, em todas as áreas experimentamos avanços e superamos dificuldades.

Em diferentes pesquisas Rio Preto é considerada uma das melhores do Brasil para se viver, está entre as melhores em ambiente de negócios e investimentos imobiliários, e ganhamos por três anos seguidos o título de cidade paulista que melhor cuida do meio ambiente.

Ampliamos nossa Estação de Tratamento de Esgoto para atender a uma população de até 600 mil habitantes e estamos finalizando um projeto para buscar água no Rio Grande, de forma a garantir o abastecimento futuro da cidade. Hoje, estamos explorando o aquífero Guarani para abastecer um terço dos nossos moradores. Buscamos essa água nobre, quase mineral, a mais de um quilômetro de profundidade. Tenho convicção que ela deveria ser preservada para nossos netos e bisnetos. É o que estamos tentando fazer buscando lá fora água de superfície.

Rio Preto acaba de se tornar, por força de lei, sede da Região Metropolitana do Noroeste Paulista, com influência sobre 37 cidades vizinhas e uma população próxima de um milhão de pessoas. Mas a importância desta cidade-polo vai além das fronteiras físicas da Região Metropolitana. Nossa área de influência alcança mais de dois milhões de pessoas, do Noroeste de São Paulo e dos estrados vizinhos de Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.

Nesta quadra da história estamos trabalhando para consolidar projetos para a Região Metropolitana em todas as áreas, buscando integração e desenvolvimento. Conduzir e consolidar esses projetos aí no futuro será uma tarefa das novas gerações.

Rio Preto é uma cidade dinâmica e líder. Todo investimento público feito aqui atrai volumes altos em investimentos privados.

As melhorias feitas hoje serão essenciais para a qualidade de vida dos rio-pretenses e mostram o nosso compromisso claro com um futuro melhor para todos.

Creio ter registrado para a cápsula do tempo do Instituto Alarme um pouco da história do presente e da esperança no futuro. Essa entidade parceira do município, reconhecida pelas atividades educacionais desenvolvidas com crianças e adolescentes de Rio Preto, está festejando seus 70 anos. Quase a minha idade, tenho 72. É uma história de sacrifícios e amor ao próximo, de compromisso com o encaminhamento das nossas crianças e jovens. Merece todo o meu carinho e apoio.

Vida longa ao Instituto Alarme!

Que Deus ilumine e proteja aos que lerem estas linhas no futuro.

Escrevi com o coração!

Obrigado

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