Gratidão eterna, meu pai

A Cidade de Votuporanga, 22 de março de 2024

DHoje – 22 de março de 2024

Neste 22 de março de 2024, data que marca os 100 anos de nascimento de meu pai, Emídio Antonio Araújo, quero deixar registrada minha eterna gratidão ao homem que foi esteio da família, cultivador do hábito do trabalho, da seriedade e da honestidade. Lembro-me como se fosse hoje das suas palavras de incentivo ditas do seu jeito simples, direto e firme: “Não quero criar filho debaixo da saia da mãe. Tem que aprender a enfrentar as dificuldades”.

 

Desde pequeno meu pai, Emídio, enfrentou o heroico e pesado trabalho da roça, como lavrador. Nascido na Fazenda Formiga, em Palestina, foi o primeiro dos 12 filhos do meu avô Coronel Araújo e de minha avó, dona Mariana. Posteriormente, meu avô decidiu mudar-se para Goiânia. Era época da Segunda Guerra Mundial e, ao completar 18 anos, meu pai, no intuito de servir a Pátria, pensou em seguir a carreira militar, porém acabou dispensado.

 

Logo depois, a família foi morar em Votuporanga, cidade de futuro, que estava sendo desbravada e construída. Ainda em Votuporanga, meu pai conheceu e se casou com dona Bela, minha mãe. Em 1947, meu pai e o meu avô, com minha mãe e meu irmão Nelson, ainda criança, foram desbravar a futura Santa Fé do Sul, levando a mudança na carroceria de um pequeno caminhão. Em Santa Fé, nasceram os outros filhos.

 

Enquanto a família crescia, com muito esforço, meu pai e meu avô adquiriram 60 alqueires de terra e investiam na produção agrícola. No povoado, montaram o primeiro estabelecimento comercial, um salão de alvenaria na Avenida Conselheiro Antonio Prado: a Casa Araújo, que se tornaria referência de convivência entre os moradores e inspiração para outros empreendimentos.

 

Meu pai foi Juiz de Paz por vários anos e também vice-prefeito de Santa Fé do Sul eleito para o mandato de 1958 a 1962, quando a votação de prefeito era separada da de vice-prefeito. Ganhou o prefeito da outra chapa, Deraldo da Silva Prado. Em 1962, meu pai candidatou-se a prefeito, pela extinta UDN (União Democrática Nacional), cujo Diretório Municipal presidiu de 1950 a 1964.

 

Nesse ano, meu pai foi um dos fundadores do Rotary Club de Santa Fé do Sul, e, posteriormente, seu presidente. Pelo Rotary Clube, minha irmã menor, Dininha, chegou a fazer um intercâmbio em Illinois, Estados Unidos, onde permaneceu um tempo acompanhada de minha mãe.

 

Acredito que herdei do meu pai o gosto pela vida pública, desde os tempos em que ele me levava para acontecimentos como aquele do discurso de Jânio Quadros, em porto do Taboado. Foi um despertar, ali meu pai estava me ajudando a plantar a semente que me levaria a ser prefeito de Santa Fé do Sul, três vezes deputado estadual, quatro vezes deputado federal, ministro do Brasil e quatro vezes prefeito de São José do Rio Preto.

 

Percebo hoje o quanto meu pai, homem de poucas letras, estava certo ao se preocupar com nossos estudos. Sem esmorecer diante das dificuldades, ele investiu em nossa formação, com reserva de recursos da venda do leite. Éramos crianças cheias de sonhos na Santa Fé do Sul ainda em formação. Ele e nossa mãe, dona Belinha, sempre dando força. Até que veio a fase de estudar longe de casa.

 

Tenho registradas em minha lembrança as primeiras viagens para Ribeirão Preto, onde me formei advogado e professor. Saíamos de Santa Fé e pegávamos o trem. A telefonia era precária e nossa comunicação era por carta. Quando voltávamos para casa era sempre uma festa. Meu irmão mais velho, o Nelson formou-se em medicina, em Marília. A Nelsi foi estudar em Lins e a Dininha, em São José do Rio Preto, ambas professoras.

 

Naquele triste 14 de fevereiro de 2008, em São José do Rio Preto, onde se encontrava em tratamento de saúde, meu pai deixou a existência física deste mundo, mas permanece vivo em nossa memória e nos nossos corações.

Acredito que falo em nome de dona Bela, minha mãe, de meus irmãos, sobrinhos e netos. Obrigado por tudo.


Edinho Araújo,
prefeito de São José do Rio Preto

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